sábado, 12 de novembro de 2016

Combate dos Porongos: surpresa ou massacre?

Cerros de Porongos - Pinheiro Machado - RS

Por: Cássio Lopes

Em novembro de 1844 estava em voga uma suspensão de armas, condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz. Condição essa não cumprida por todos os envolvidos. Alguns historiadores, como o professor da PUC de Porto Alegre, Moacyr Flores, atribuem o episódio de Porongos à traição dentro das forças republicanas, para eliminar o grupo de Lanceiros Negros e acabar com um dos principais entraves às conversações da paz. Para ele, "os negros foram traídos em Porongos porque Caxias tinha ordens de não lhes conceder anistia. Levaram os negros capturados em Porongos e os que foram entregues pelos Farrapos para a fazenda de Santa Cruz e para o Arsenal no Rio de Janeiro". Historiadores dessa corrente cogitam que a matança teria sido combinada entre David Canabarro, o principal general farrapo, e Duque de Caxias, representante imperial, para exterminar os integrantes, que poderiam formar bandos após o término da guerra e forçarem a assinatura da Paz de Ponche Verde. De comum acordo decidiram destruir parte do exército de Canabarro, exatamente seus contingentes negros, numa batalha pré-arranjada, conhecida como a Combate dos Porongos. A questão da abolição da escravatura, uma das condições exigidas pelos farroupilhas para a paz, entravava as negociações. A libertação definitiva dos ex-escravos combatentes precipitaria um movimento abolicionista no resto do império, e a mão de obra escrava vinha mantendo a produção agrícola desde os tempos coloniais. Os Lanceiros Negros teriam sido previamente desarmados por Canabarro e separados do resto das tropas, sendo atacados de surpresa e dizimados pelas tropas imperiais comandadas pelo Coronel Francisco Pedro de Abreu, conhecido como Moringue.
Outros historiadores acreditam que a batalha de Porongos, foi um ataque sofrido pelo general David Canabarro – e não armado por ele em conjunto com o imperialista Caxias. Para Cláudio Moreira Bento, historiador e coronel reformado do Exército Brasileiro, autor de 70 livros, a maior parte deles sobre história militar, os Lanceiros Negros salvaram a República Rio-Grandense e o seu Exército de um colapso total, “através de resistência titânica que lhes custou muitas vidas, que contribuíram para a manutenção das condições honrosas de paz com o Império, como foi o Tratado de Ponche Verde, graças a Caxias”.
Vê-se então um conflito de versões. Para uns, Canabarro é vilão, para outros, sofre um ataque inesperado. Isso se deve a uma carta atribuída ao barão de Caxias, instruindo Moringue a atacar o corpo de Lanceiros Negros, que seriam previamente desarmados, e afirmando que tal situação teria sido previamente combinada com Canabarro. Esta carta foi mostrada em Piratini, a um professor ligado aos demais comandantes farrapos. A autenticidade desta carta foi questionada, tomando por base o depoimento de Azambuja Rangel(cunhado de Moringue), a mesma teria como objetivo principal a desmoralização da imagem de Canabarro. Seja a carta verdadeira ou não, o fato é que o combate de Porongos removeu um dos obstáculos mais complicados para o restabelecimento da paz no Rio Grande, uma vez que o império não admitia conceder a liberdade aos negros que haviam lutado ao lado dos rebeldes farroupilhas, o que, segundo alguns historiadores, seria considerado um "mau exemplo" para os escravos de outras províncias.
Tenha sido surpresa ou traição, de alguma maneira os negros farrapos foram separados do resto da tropa. Isolados e portando apenas armas brancas, os Lanceiros Negros resistiram bravamente antes de serem liquidados. O combate de Porongos, onde oitenta de cem mortos foram negros, abriu caminho para a Paz de Ponche Verde alguns meses depois. “Tombam os Lanceiros Negros de Teixeira Nunes, brigando um contra vinte, num esforço incomparável de heroísmo", segundo Cláudio Moreira Bento.
Artêmio Vaz Coelho, integrante do Núcleo de Pesquisas Históricas de Candiota e historiador de Pinheiro Machado, o qual pesquisou durante 20 anos a história do combate e dos lanceiros negros, embasando-se em teses e trabalhos desenvolvidos por diversos historiadores podendo destacar César Pires Machado, Carlos Marino Louzada e Morivalde de Fagundes Calvet,concluiu que a abordagem dos fatos que é feita sobre a batalha tem sido tendenciosa com as insinuações de traição aos famosos lanceiros negros. No entendimento de Artêmio o que ocorreu foi uma fatalidade em que pereceram os verdadeiros heróis republicanos.

Marco da Batalha do Porongos - Pinheiro Machado - RS

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