Para chegarmos à origem da fundação de Bagé, temos que estar situados no que realmente aconteceu nesta região.
No ano de 1811, as províncias que constituíam o antigo Vice-Reinado do Prata trataram de proclamar sua independência. Era o chamado movimento de independência da Espanha.
O governador de Montevidéu, no entanto, manteve-se fiel à Espanha e não aceitava a independência. Devido a sua decisão, Montevidéu foi cercada por forças de Buenos Aires e de orientais (uruguaios) liderados por Artigas.
Para se prevenir de uma possível invasão da Capitania do Rio Grande de São Pedro, Portugal organizou o Exército de Observação na Capitania do Rio Grande do Sul, ao comando de Dom Diogo de Souza. A concentração inicial do Exército de Observação foi feita na região de Bagé, ao comando do Marechal de Cavalaria Manoel Marquês de Souza, comandante da Fronteira do Rio Grande e também no acampamento São Diogo, junto ao rio Inhaduí próximo de Alegrete, ao comando do Marechal de Infantaria Joaquim Xavier Curado, comandante da Fronteira do Rio Pardo. De lá saiu para São Borja, ao comando do Coronel João de Deus Menna Barreto, um grupamento de forças.
Em maio de 1811, o governador de Montevidéu, sitiado pelo argentino Rondeau e por tropas orientais de Gervásio Artigas, solicitou socorro a Dom João VI, cunhado do rei D. Fernandes da Espanha.
Dom João, então, determinou a invasão da Banda Oriental (atual Uruguai) pelo Exército de Observação, agora transformado em Exército de Pacificação da Banda Oriental.
Nesse meio tempo, foi feito o acampamento de Bagé, por determinação de Dom Diogo de Souza. Coube então ao Marechal Marques de Souza a escolha do local estratégico, próximo aos cerros de Bagé. Neste acampamento foram construídos hospital, capela, oficinas e armazéns.
Dom Diogo de Souza ordenou que todas as forças da Capitania se concentrassem no acampamento de Bagé. Deixou uma pequena força de cobertura em São Borja, ao longo das fronteiras. De janeiro a julho o acampamento virou uma espécie de quartel general do exército português.
Então em 17 de julho de 1811, o Exército Pacificador rumou do acampamento de Bagé para o rio Jaguarão em direção a Banda Oriental.
Em 23 de julho, o Marechal Marquês de Souza invadiu o Uruguai e tomou posse de Cerro Largo (atual Mello).
Em 5 de setembro, Marques de Souza, à frente de 300 cavalarianos, apossou-se da Fortaleza de Santa Teresa, no Uruguai, abandonada pelo inimigo.
Em 3 de outubro, o Exército Pacificador retomou sua marcha. Em 11 dias de marcha forçada, atingiu Maldonado, sem que o inimigo tentasse qualquer reação sobre as desguarnecidas fronteiras do Rio Grande.
Em 14 de outubro, o governador de Montevidéu mandou aviso a Dom Diogo, pedindo que recolhesse para o Rio Grande o Exército Pacificador, em razão de haver feito um acordo com os argentinos e orientais, por imposição de interesses britânicos. Rondeau retirou-se para Buenos Aires, e Artigas para Entre-Rios.
Diante das ameaças que continuaram por parte de Artigas e seus seguidores, Dom Diogo de Souza destacou de Maldonado para o acampamento de São Diogo, em fins de dezembro de 1811, os regimentos de Dragões e de Milícias de Rio Pardo, ao comando do Coronel Thomaz da Costa.
Chegando a Paissandu, Dom Diogo de Souza entrincheirou o seu Exército, sendo que suas forças tiveram que enfrentar diversas guerrilhas de Artigas.
Em 10 de junho de 1812, Dom Diogo de Souza, estava em Paissandu, quando recebeu ordens de D. João VI para retirar-se da Banda Oriental, em razão de um armistício (acordo). Em 12 de setembro de 1812, o Exército Pacificador, em duas colunas, marchou novamente para Bagé.
Em consequência destes acontecimentos, Dom Diogo de Souza foi agraciado com o título de Conde de Rio Pardo e Bagé foi fundada sem precisar ter existido guerra alguma.
Parabéns Bagé - 210 anos
Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em história
Fontes:
Taborda, Tarcísio. Bagé de ontem e de hoje, 2015.
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – A Campanha do Exército Pacificador da Banda Oriental – 1811-12
Dom Diogo de Souza
Foto antiga de Bagé - Praça da Matriz