Por: Diones Franchi
São Sebastião é o padroeiro de Bagé, mas também é o padroeiro dos militares. Sua história é conhecida somente pelas atas romanas de sua condenação e martírio. Nessas atas de martírio de cristãos, os escribas escreviam dando poucos detalhes sobre o martirizado e muitos detalhes sobre as torturas e sofrimentos causados a eles antes de morrerem. Essas atas eram expostas ao público nas cidades com o fim de desestimular a adesão ao cristianismo.
O Soldado
Sebastião era um soldado romano que foi martirizado por professar e não renegar a fé em Jesus Cristo. Sebastião nasceu na cidade de Narbona, na França, em 256 d.C. Seu nome é de origem grega, Sebastós, que significa divino, venerável. Ainda pequeno, sua família mudou-se para Milão, na Itália terra de sua mãe, onde ele cresceu e estudou. Sebastião optou por seguir a carreira militar de seu pai. Ele e sua família teriam chegado a Roma através de caravanas de migração lenta pelas costas do mar mediterrâneo. Se alistou no exército romano por volta de 283 d.C. com a única intenção de afirmar o coração dos cristãos, enfraquecido diante das torturas. Era querido dos imperadores Diocleciano e Maximiano, que o queriam sempre próximo, ignorando tratar-se de um cristão.
No exército romano, chegou a ser o Capitão da 1ª da Guarda Pretoriana. Esse cargo só era ocupado por pessoas ilustres, dignas e corretas e de extrema confiança do Imperador. Sebastião era muito dedicado à carreira, tendo o reconhecimento dos amigos e até mesmo do Imperador Romano, Maximiano. Na época, o império romano era governado por Diocleciano, no oriente, e por Maximiano, no ocidente. Maximiano não sabia que Sebastião era cristão. Não sabia também que Sebastião, sem deixar de cumprir seus deveres militares, não participava dos martírios nem das manifestações de idolatria dos romanos. Por isso, São Sebastião é conhecido por ter servido a dois exércitos: o de Roma e o de Cristo. Sempre que conseguia uma oportunidade, visitava os cristãos presos, levava uma ajuda aos que estavam doentes e aos que precisavam.
A morte
Por volta de 286 a sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas que se tornaram símbolo constante de sua imagem. Foi dado como morto e atirado no rio, porém, Sebastião não havia falecido. Encontrado e socorrido por Irene, apresentou-se novamente diante de Diocleciano, que ordenou então que ele fosse espancado até a morte. Seu corpo foi jogado no esgoto público de Roma. Luciana resgatou seu corpo, limpou-o, e sepultou-o nas catacumbas. Segundo seu relato, Sebastião apareceu-lhe em sonho e lhe pediu que seu corpo fosse encontrado e sepultado nas catacumbas onde eram sepultados os cristãos.
O Santo
No século IV, foi construída, em sua homenagem, uma basílica perto do local do sepultamento, junto à Via Appia, e seu culto foi difundido por todo o mundo católico. No ano de 680, suas relíquias foram solenemente transportadas para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje. Por coincidência ou não, nessa mesma época, uma terrível peste assolava Roma, levando à morte muitas pessoas. Essa epidemia simplesmente desapareceu a partir do momento da transladação dos restos mortais desse santo mártir, que passou a ser venerado como o padroeiro contra a peste, a fome e a guerra. Também em Milão na Itália, em 1575, e em Lisboa, em Portugal em 1599, ocorreram pestes epidêmicas que foram exterminadas após atos públicos onde as pessoas suplicavam a intercessão espiritual de santo mártir junto a Deus para que a peste fosse embora.
O Padroeiro de Bagé
Em Bagé em 20 de janeiro de 1813, uma procissão transladou a imagem de São Sebastião da Guarda da Coxilha para o acampamento militar deixado por Dom Digo de Souza, sendo que a igreja foi concluída em 1820.
Inicialmente, a imagem ficou em um rancho e em 1815 iniciou-se a construção de uma igreja em louvor do santo. O Oratório desta Guarda foi construído com paredes de leivas e pedra sendo coberto com capim santa fé, a imagem de São Sebastião talhado em madeira com traços de nativos missioneiros.
Em 10 de dezembro de 1815, encontrava-se em Pelotas, o Bispo do Rio de Janeiro D. José Caetano da Silva Coutinho que autorizou a ereção de uma capela em louvor de São Sebastião, com a sua imagem transferida do oratório da Guarda de São Sebastião e do acampamento fundado por Dom Diogo de Sousa.
Em 17 de junho de 1818, o Cônego Antônio Vieira da Soledade elevou à condição de Capela Curada, sendo Cura com o Padre Gervásio Antônio Pereira Carneiro, seguido do Padre Joaquim Paulo de Sousa Prates. Concluída em 1820, a antiga igreja era muito simples, resumindo-se a uma capela-mor e tendo como corpo um galpão coberto de palha. A Igreja sofreu vários danos durante a Guerra Cisplatina e a Guerra dos Farrapos, prejudicando suas estruturas. A antiga Igreja passou vários anos em estado precário, até que foi demolida para se iniciar a construção de uma nova. A atual Matriz começou a ser construída em 1862 e foi concluída em 1878. Em 1865, quando já estavam prontos a capela e o altar-mor, com a Igreja já coberta é que começaram os cultos.
A verba para a obra veio do Governo da Província, espetáculos feitos para arrecadar recursos e donativos da população. Uma grande doação (de 12 contos de réis) foi feita pelo Sr. Carlos Silveira Martins (pai de Gaspar Silveira Martins), com a condição de que uma das torres abrigasse o túmulo de sua família. O comerciante espanhol Ramon Galibern trouxe, da Espanha, um relógio de presente para a Matriz, que ficou preso na alfândega de Rio Grande por aproximadamente um ano, e só foi colocado na torre, à esquerda da entrada, em 1873.
A antiga Igreja de São Sebastião foi erguida para abrigar a imagem de São Sebastião, Santo Padroeiro de Bagé. A atual Matriz é obra do arquiteto Pedro Obino, de 1878. Francisco Carlos Martins, pai de Gaspar Silveira Martins, doou uma grande quantia para a construção da nova igreja e, como retribuição, a catedral abriga, na base de sua torre direita, os túmulos de Gaspar Silveira Martins e sua família.
Em 1893, durante a Revolução Federalista, a catedral e a Praça da Matriz foram palco de grandes acontecimentos no episódio que ficou conhecido como Cerco de Bagé, quando forças revolucionárias, pretendendo tomar a cidade, obrigaram os legalistas-republicanos, comandados pelo Coronel Carlos Maria da Silva Telles, a armar a defesa da praça.
Em 1907, quando o presbítero Costábile Hipólito chegou a Bagé, encontrou a igreja sob os estragos por causa do Cerco de Bagé, onde durante a Revolução Federalista. Sendo assim tratou de realizar sua restauração e conclusão, abrindo as naves laterais e mandando fazer pinturas interiores. Depois outras reformas foram feitas, até que em 1947, os padres capuchinhos assumindo a direção da Paróquia, realizaram novas obras, sendo tapados os furos das balas que a fachada da igreja ostentava. A catedral recebeu nova pintura em 2003, graças ao apoio da comunidade, sendo também um patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A procissão
Todo o ano acontece no município à procissão de São Sebastião, sendo sua imagem trazida por cavalarianos da vila de São Sebastião, cerca de 40 km da cidade.
O santo, que atualmente está abrigado na Catedral de São Sebastião, chegou ao Brasil em 20 de janeiro de 1565. Fez um grande trajeto, cruzando diversos estados, chegando ao sul, no município de São Sebastião do Caí, onde permaneceu por algum tempo.
Em 1683 que o santo chegou à região da campanha, pelas mãos dos padres jesuítas da Ordem de Jesus, chefiada pelo padre Tadeu Xavier Henis. Com o adensamento da população na região, a vila ganhou a denominação de seu padroeiro São Sebastião.
Além de Bagé. São Sebastião é padroeiro em várias cidades do Brasil, onde o santo devoto é também o protetor contra a peste, a fome e a guerra.
As festividades
A Igreja Católica o reverencia no dia 20 de janeiro; também nessa mesma data o fazem as comunidades dos cultos religiosos afro-brasileiros em seus terreiros e barracões, tais como a Umbanda e o Candomblé. Na Umbanda, São Sebastião é sincretizado com Oxossi, orixá da caça e que tem como símbolo o arco-e-flecha; no Candomblé é sincretizado com Ogum, orixá da guerra e de personalidade forte e decidida.
São Sebastião de Bagé
Catedral de Bagé - RS
Muito interessante toda a história de São Sebastião!Um ícone do Patrimônio Cultural.
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