Texto publicado originalmente no Jornal impresso Folha do Sul Gaúcho. Em homenagem ao historiador Tarcísio A. C. Taborda, que completaria 82 anos de vida no último dia 13 de Julho de 2010.
"Numa edição especial do jornal ECOARTE em homenagem ao nosso Tarcísio Taborda, Wayne dizia genialmente: “Tarcísio é a pessoa mais de Bagé que conhecemos.Bageenseia,Tarcísio, desde menino, bageensemente seu bageensismo. Esticou de tal forma o mapa da cidade que já não sabemos se foi aprovada a sua proposição para que o Estado passasse a ser chamado Rio Grande do Sul de Bagé”. E acrescentava: "pedir a bibliografia de Tarcísio, é pedir sua bageografia”.
Tarcísio está diluído em Bagé e, Bagé, por sua causa, diluído no mundo. Um pedaço dele mora em Santa Tecla, o outro no Cerro de Bagé, um outro às margens do Arroio, um outro segura o museu Dom Diogo e sua majestosa escadaria, e , quando o sino da Matriz ecoa não sabemos se é o sino ou seu coração batendo por Bagé, sincopadamente. Ocorre que, neste ano, todos os seus pedaços foram convocados a acampar na esquina da Tupy com a Coronel Azambuja e não sairão de lá enquanto o seu Museu da Gravura não for reaberto
Neste dia 13, de seu aniversário, nós queremos te dizer,Tarcísio, que fizemos todas as tarefas, em teu nome.E que a Urcamp junto ao Ministério da Cultura, com mediação de Luís Fernando Mainardi, está providenciando a abertura do Museu da Gravura,um dia, tão cuidadosamente organizado por ti.
Aguardamos ansiosos enquanto, no charmoso Porão da Secretaria Municipal de Cultura, se realiza o mais contundente ato político em sua defesa nesta Semana de Bagé do Arte na Vitrine. Uma Exposição argumentando , vigorosamente , os cuidados com um dos mais preciosos acervos visuais brasileiros. Inteligentemente montada para acordar Bagé para sua relíquias. Carmen Lucia Barros(Casa de Cultura), Maria Luisa Pegas (Museu Dom Diogo) e Alunas da Faculdade de Educação Artística, narram a beleza e a história da criação do museu da Gravura Brasileira.Na entrada, uma cobertura jornalística do ato de sua criação nos acolhe aquecida pela figura emblemática de Tarcísio Taborda e do histórico Grupo de Bagé. A partir dela uma mostra artística descortina a evolução e o brilho da obra, em várias linguagens, dos reconhecidos artistas,Glauco Rodrigues ,Glenio Bianchetti, Carlos Scliar e Danúbio Gonçalves. Com eles nasceram as artes visuais do Rio grande do Sul como nos lembrou Paulo Amaral, ex-Diretor do Margs, na última Feria do Livro de Bagé. Não adianta, mesmo revisitada, a produção do Grupo da Gravura de Bagé, sempre surpreende e deslumbra,jamais é a mesma e sempre provocadora diante do nosso olhar em movimento.
Antenado, extremamente sensível e arrojado,Tarcísio previu que os tempos apagariam marcos,arrancariam raízes e que, simultanemante, pediriam diferenciações e o clamor criador das identidades. E ele sabia que um museu guarda o tecido mais forte da alma de uma cidade, suas pegadas, os registros que valeram, as luzes que permanecerão em qualquer noite da história. E reteve ali a arte e sua chama... A gravura era uma tradição de Bagé As nascentes do rio caudaloso das pesquisas dessa linguagem estavam enraizadas luminosamente aqui. Um dia, Consuelo Cuerda tentou dar continuidade a esse empenho num trabalho original com crianças, jovens e adultos e que terminou com o fechamento dramático do Cenarte. Ficou lá desativada uma valiosa prensa e a grande pergunta : como fica a gravura que nasceu em Bagé ?
Hoje esse relicário, esse acervo, vasto e múltiplo do Museu da Gravura, com quase 1,5 mil obras dos mais consagrados artistas brasileiros está depositado no Museu Dom Diogo e clama por um espaço próprio e adequado e pelo mais qualificado convívio com a comunidade.A maioria das obras de Glauco Rodrigues, um dos grandes pintores do continente, foi destinada à guarda do Museu da Gravura o que aumenta extremamente nossa responsabilidade ética.
Neste aniversário de Bagé pedimos a esse inesquecível e insubstituível aniversariante, Tarcísio Taborda, que nos dê uma mão e reabra festivamente o seu e nosso Museu da Gravura, único em sua especificidade no Brasil. Já pensaram?
Por outra, Tarcísio, fica descansado, os”guris” estão narrando Bagé por ti,pelos bairros, escolas e praças. O Núcleo de Pesquisas te mantém vivo. Mas os 200 anos de tua terra pedem a tua força para que o rosto de tua cidade resplandeça diante de si mesmo e diante do mundo.
De resto é muita saudade tuas, gosto de sol e geada em nossa alma de julho e a sensação de que sempre estás chegando, a manta no pescoço, os”rrr” arrastados em tua macia fala e a gana de cantarmos juntos o hino de tua Bagé...E te cantarmos,Tarcísio. Afinal, quem mais amou Bagé que tu?
OBS: Tarcísio Taborda era integrante do Grupo Ecoarte.
Elvira de. M. Nascimento (Mercinha)".
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