Mário Nogueira Lopes
Jornalista
Poeta, romancista, jornalista Pedro Rubens de Freitas Wayne foi figura de real destaque nas letras não só de Bagé, como do estado, tendo sua obra alcançado também repercussão nacional.
Nascido na Bahia, na cidade de Salvador, em 26 de fevereiro de 1904, Pedro Wayne veio com os pais, Rubens e Ester de Freitas Wayne, para o Rio Grande do Sul, radicando-se em Pelotas. Tinha apenas quatro anos de idade.
Fez seus estudos no Colégio Pelotense. Depois de trabalhar como guarda-livros de uma charqueada, ingressou no Banco Pelotense. Foi como funcionário deste estabelecimento bancário que ele chegou a Bagé, em 1927. Com a falência do banco, Wayne exerceu diversas atividades. Foi agricultor, jornalista juiz municipal substituto, auxiliar da Carteira Agrícola do Banco do Brasil.
O Escritor
Mas foi como escritor que ele se projetou, alcançando nome na literatura nacional já com que seu primeiro livro “Charqueada”. Muito bem recebido pela critica do centro do país, tornou-se um escritor bastante conhecido e elogiado inclusive por colegas. Escreveu ainda as bem recebidas obras “Almas Penadas” e “Lagoa da Música”.
Entusiasmado com o sucesso do Teatro em Família, que aqui existiu na década de 40 e ao qual se integrou, escreveu também uma peça de teatro, “O Boêmio Triste”, especialmente para o grupo encenar.
O grande Procópio Ferreira teve oportunidade de ler a peça e gostou, mas só a encenaria se o último ato fosse cortado, com o que Wayne não concordou. É que o personagem que ele faria, praticamente, desaparece no terceiro ato.
Além de conferências, artigos e crônicas para jornais e revistas locais e de vários pontos do país, Wayne escreveu também para o rádio.
Por solicitação do gerente da Rádio Cultura, Heraldo Duarte, ele radiofonizou episódios e personalidades da História do Brasil, irradiados nas datas festivas.
É curioso lembrar que, depois de Pedro, seu filho Ernesto passou a ser o redator do programa.
Os filhos de Pedro Wayne também se dedicaram à literatura. Ramon Calo Wayne, bancário e jornalista, escreveu o livro “Periferias do Vento”, e Ernesto, professor universitário, jornalista e poeta deixou uma vasta obra, sendo ainda lembrado como “o poeta maior de Bagé” .
O jornalista
Como jornalista, foi redator e cronista do Correio do Sul e colaborador da revista “Phenix”, que aqui circulou, e de diversos outros órgãos de imprensa. Editou a “Revista da Exposição”, por ocasião da realização do tradicional evento promovido anualmente pela Associação Rural de Bagé.
Pedro Wayne, com Fernando Borba, Paulo Thompson Flores e Pelayo Perez lançaram um pequeno jornal que alcançou grande repercussão nos meios literários do país, vindo de toda parte pedidos de exemplares.
Com o exótico titulo de “ABCDEFGIJKLMNOPQRSTUVWXYZ”, o editorial de apresentação prometia publicar “literatura da nova, coisas de hoje”. Teve curta duração, mas despertou enorme polêmica, pois foi considerado “obsceno, pornográfico e imoral”. Sofreu tamanha guerra que a policia o fechou, seguindo ordens do governador do Estado, Flores da Cunha, ao qual pedidos nesse sentido haviam sido feitos. No editorial de despedida, os intelectuais bageenses diziam; ‘Não pense, não, o leitor que são os redatores que vão partir.Ainda não. É o ABC, simplesmente, que comunica a seus inúmeros desafetos que com esse terceiro número despede-se. Não sairá mais. Nascido para viver apenas um dia, três vezes, com esta, veio a lume. forçado pela estúpida falta de compreensão daqueles que o apedrejaram em nome da falsa moral embuçados na capa de borracha de tartufo. Moral caolha e hipócrita não é moral. Por isso, não aceitamos a lição quando surgiu ela da intriga, do anonimato ed da má vontade nascida na sandice gás mesas de café. Os redatores do dito cujo aproveitam o ensejo para se despedirem de todas as almas gener osas que lhe têm enviado descompustura, intrigas e cousas outras, tão profundamente imorais que não cabem dentro da sinceridade desta folha”.
Encontro com Lins do Rego
Embora não fosse ligado ao futebol, Wayne, atendendo solicitação nossa, escreveu artigos para a “Folha Esportiva”, que editávamos. Em um deles, relatou o encontro que teve, por ocasião de um congresso de escritores no Rio de Janeiro, com José Lins do Rego, grande apaixonado pelo Flamengo. Sabendo que Wayne era de Bagé, queria informação sobre um jogador do Guarany, o ponteiro Porto Alegre, que estava em teste em seu clube predileto. Wayne, que nada sabia, não querendo demonstrar sua ignorância no assunto, saiu-se, muito bem, dizendo, inteligentemente, que para Bagé ele era um bom jogador.
O Poeta
Pedro Wayne lançou também livros de poesia. O primeiro foi “Versos Meninosos e a Lua”, seguido por “Dina” e “ Tropel de Aflições “. O último, em memória de sua filha Dolores Maria, prematuramente falecida, com apenas 16 anos de idade. Eram “dezesseis poemas para aquela que aos 16 anos de idade deixou-nos a permanência de seu beijo e em sonho novamente se tornou”.dizia o poeta na apresentação de seu trabalho.
O escritor Manoelito de Ornellas, lembrava sempre que foi após a publicação do primeiro livro de poesias de Wayne, o qual marcou época, que eles, e depois Érico Veríssimo, se aproximaram e os três se tornaram amigo.
Contribuição valiosa
Sempre atento e envolvido com os movimentos culturais, Pedro Wayne incentivou, desde do inicio, os jovens artistas, e com eles colaborou, para a formação do Grupo de Bagé, que tanto sucesso alcançou ao longo dos anos.
Sua valiosa contribuição, é lembrada e destacada pelo poeta e escritor bageense Clóvis Assumpção, que foi critico de artes, ao escrever a história do Grupo de Bagé. Ele salienta que Pedro Wayne que “não só inovou a literatura do Rio Grande do Sul, com a participação ativa e direta de seu talento, como também conservou-a no alto sentido social, muito contribuiu para a formação do Grupo de Bagé, estimulando sempre e de todas as maneiras os jovens artistas.”
Festa Nacional do Trigo
Quando se dedicava à agricultura, Pedro Wayne idealizou e organizou a I Festa Nacional do Trigo aqui realizada em 1951.
Infelizmente, ele não teve a oportunidade de ver o sucesso que a promoção alcançou, por ter falecido antes de sua inauguração.
O Falecimento
Ao falecer em 13 de outubro de 1951, Pedro Wayne desempenhava as funções de Juiz Municipal. Seu velório foi no edifício do Fórum, onde amigos e admiradores em grande número compareceram para manifestar seu pesar pela irreparável perda. Noticiando a morte de seu antigo redator, o Correio do Sul dizia não saber qual o maior: o seu coração ou seu cérebro e que o escritor “não deixou herança material, mas deixou um legado imperecível perpetuado em sua produção literária”.
Pedro Rubens de Freitas Wayne faleceu com apenas 47 anos de idade e era casado, desde 1928, com D. Leopoldina Calo Wayne (Dininha) e deixou três filhos Ernesto, jornalista, e os estudantes Ramon e Ester Calo Wayne.
Recohecimento
O trabalho comunitário e a projeção que Pedro Wayne deu a Bagé, com sua obra, foram reconhecidos pelo Poder Público dando seu nome a uma das ruas da cidade e à Casa de Cultura, onde são efetuadas as promoções culturais da cidade. Uma de suas salas, foi destinada a uma memorial do escritor, estando ali expostos móveis, pertences e trabalhos do saudoso intelectual.
Pedro Wayne também desenhava. São de sua autoria o desenho e os versos em homengem ao Dr. Mário Araújo, que a revista “Phenix” publicou.